Muitos sociólogos estão estudando o fenômeno da “aceleração do tempo”, uma experiência importante em nossa sociedade que, muitas vezes, causa um sentimento de asfixia. O bombardeio constante de todos os tipos de demandas e o “excesso de tudo”, na verdade, revelam uma lacuna real a ser preenchida. Se nos envolvermos na espiral diária de responder cada vez mais às coisas que consideramos urgentes (mas que são supérfluas e superficiais) perderemos de vista a essência da nossa vida.

 

Faça tudo com moderação

São Bento, o pai da vida monástica no Ocidente, viveu uma Regra que pode ser adaptada à nossa maneira atual de viver. Quinze séculos depois, a sabedoria de São Bento permanece surpreendentemente relevante. Entre seus preceitos, há um conselho surpreendentemente simples de como manter o foco no essencial.

D. Xavier Oerrin, abade na Inglaterra, explica que, em relação a todas as coisas, “o homem precisa de medidas. Ele deve encontrar constantemente um equilíbrio entre excesso e falta”.

São Bento ressalta que somos tentados a seguir apenas uma direção, quando a vida exige um equilíbrio constante de esforços e atividades. Paradoxalmente, podemos até errar ao rezarmos demais, jejuarmos demais ou trabalharmos até a exaustão.

Esta é a razão para este conselho que São Bento transmitiu aos monges: é preciso sempre praticar o equilíbrio entre duas coisas contrárias para permanecer atento ao essencial. No caso dos monges beneditinos, isso significa equilibrar oração e trabalho, silêncio e canto, solidão e vida comum.

Mas como fazer tudo com moderação? São Bento diz que a medida certa não deve ser muito alta (como imitar certos feitos dos Padres do Deserto), nem muito baixa (como o modo de vida com o qual o monasticismo decadente de seu tempo era facilmente satisfeito).

Obviamente, o foco de cada dia, para os monges, é aproximar-se de Deus através da oração. Tudo está organizado em torno dessa prioridade, que leva ao essencial. Se definir prioridades na vida nem sempre é a coisa mais difícil, no entanto, respeitá-las e nos organizar adequadamente é um verdadeiro desafio.

Todos os distúrbios e exigências imprevistas da vida cotidiana dão poder à ditadura do urgente, de ter e fazer. É difícil imaginar não reagir ao e-mail de um cliente importante, por exemplo. Mas, às vezes, tirar um tempo para pensar na resposta pode torná-la muito mais criativa – e, portanto, mais eficaz! Segundo os monges beneditinos, quanto mais importante é a coisa, menos devemos nos apressar com ela.

Embora São Bento estivesse escrevendo para monges, os mesmos princípios se aplicam a todos nós. Como seus monges, nosso objetivo é nos aproximarmos de Deus e amarmos nosso próximo, embora com atividades mais variadas e públicas do que os beneditinos em uma abadia.

O trabalho é importante, mas igualmente importante é passar tempo com a família e reservar tempo para oração e lembrança. Manter-se atualizado sobre notícias e entretenimento só será a “medida certa” se também nos dermos um tempo para refletir sobre o que vimos, lemos e ouvimos, mantendo o que é bom, verdadeiro e bonito, enquanto rejeitamos aquilo que poderia nos desviar.

Evitar os extremos nos mantém literalmente “centralizados”. Isso nos ajuda a lembrar não apenas de “fazer” ou “ter”, mas acima de tudo, de “ser”.  Lembremos dessa sabedoria de São Bento em meio à perturbação de nossas vidas causada pela pandemia de coronavírus. Tomemos esse princípio como parte orientadora do nosso “novo normal”.

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