Madre Francisca de Jesus:
Uma grande mística brasileira
O nome de Madre Francisca de Jesus, fundadora da Companhia da Virgem, falecida a 28 de maio de 1932, é geralmente desconhecido entre nós. Confessamos que não fosse o livro do Revmo. Pe. Garrigou-Lagrange, O.P., ainda tudo ignoraríamos sobre aquela vida maravilhosa, marcada inteiramente com o selo da Divina Providência.
O Catolicismo é essencialmente místico. Não se confunda, porém, o misticismo da Igreja com certos fenômenos extraordinários, tais como visões, êxtases, revelações, que, às vezes, acompanham a vida religiosa. A misticidade consiste nas relações íntimas do fiel com Deus, provenientes da generosidade com que nos oferecemos integralmente, e da misericórdia com que Ele se digna operar em nós purificando-nos e santificando-nos. Esta purificação, produzida diretamente por Deus, caracterizada pelo sofrimento, é a realização em nós da Paixão de Cristo.
Ora, na vida de Madre Francisca de Jesus percebe-se claramente esta morte em Cristo. Em 1927, a grande fundadora passou pelas provas mais terríveis que se possam imaginar. Numa grande escuridão espiritual, ela se cria abandonada por Deus, como justo castigo de seus pecados, e prestes a cair no inferno. Nesta contingência, a conselho de seu diretor espiritual, escreveu a um dominicano de grande virtude e experiência, expondo-lhe sua situação e pedindo conselho. Na resposta, lê-se o seguinte: “É necessário experimentar esse vazio absoluto, para vir a se estar cheio da plenitude de Deus. E somente Deus pode consolar quem sofre esta prova!… É preciso configurar-se a Jesus Cristo no seu desfalecimento de Getsêmani e do Calvário, para encontrar uma nova vida gloriosa com Ele. Não é o ‘prelúdio de uma morte eterna’, como temeis, mas é a verdadeira morte mística para tudo e para si mesmo e o prelúdio da vida eterna…”
Como se vê, o misticismo católico, ao contrário do que muita gente pensa, é o antídoto específico da sentimentalidade religiosa, a moeda falsa da religião. Verifica-se aqui aquele pensamento de Jackson de Figueiredo, segundo o qual a fé não seria um lugar de repouso e de tranquilidade, mas uma luta, muitas vezes atribulada.
É verdade que nem todos são chamados para os sofrimentos extraordinários, que caracterizaram a vida dos grandes Santos; mas é certo que todos têm de morrer a si mesmos, ao seu egoísmo, às suas paixões, ao seu “eu”, a tudo enfim que represente uma autoafirmação do homem em face de Deus. Esta vocação é universal; aqueles que não a cumprem integralmente nesta vida, irão terminá-la no Purgatório. Porque o homem velho, filho do pecado e escravo do pecado, deve ser inteiramente destruído, aniquilado na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Lembram-se de S. Paulo?: “Porventura ignorais que todos fomos batizados em Jesus Cristo, batizados fomos na Sua morte? Porque fomos sepultados com Ele para morrer pelo batismo…” (ad Rom. 6, 3-4)
Portanto, a vida católica não é passível de estandardização, que seria uma espécie de religiosidade média, relativamente boa, acessível ao grande público. O Catolicismo, por sua própria natureza, é acessível a todos, mas não comporta “programas mínimos”. Há muitos que, na faina do apostolado, na preocupação de conquistar o maior número, vão passando adiante assim que notam uma certa conformação espiritual típica em seus prosélitos. Seria quase uma fabricação “em série” de católicos… Ora, enquanto não se tiver acendido o desejo de uma verdadeira santidade, tudo ainda estará por ser feito. O corretivo para semelhante inclinação encontra-se no estudo da vida e das obras dos grandes místicos da Igreja, que realizaram o que há de mais profundo e autêntico na religião.
* Uma vocação
Madre Francisca de Jesus chamou-se, no século, Francisca Carvalho do Rio Negro e era a nona filha dos barões do Rio Negro. Nasceu em Petrópolis a 27 de março de 1877, e passou sua primeira infância no Brasil. Ainda extremamente jovem, passou-se com sua família para a Europa, onde foram residir em Paris. Poucas vezes mais haveria de ver sua terra natal; porém, a obra que iria fundar em regiões distantes, pelos desígnios secretos da Providência, transportar-se-ia para o Brasil, vindo a realizar aqui, neste país tão necessitado de padres, o seu alto objetivo: a oração pelo Papa e pelas vocações sacerdotais.
Tudo isso, entretanto, não se passou sem grandes, sem enormes dificuldades. A futura fundadora estava longe de imaginar aquilo que o Céu esperava dela, mesmo porque o Céu não se deu pressa em lhe revelar seus desígnios, deixando-a perplexa por muito tempo.
Ainda em plena adolescência, por um impulso cuja espontaneidade só pode ser atribuída a uma inspiração sobrenatural, Francisca, diante de uma pequena imagem de Nossa Senhora de Lourdes, que sempre a acompanhava, ligou-se a Deus por um voto de virgindade perpétua. Saberia ela as lutas que a defesa deste voto lhe iria custar? Passado algum tempo, já na plena resplandecência de uma juventude magnífica, aparece-lhe a primeira proposta de casamento. O pretendente era do agrado dos Rio Negro. Francisca renova o seu voto, recusa-se com todas as forças, e acaba por vencer esta primeira prova. Vitória? Não… ela ainda estava muito distante de um triunfo completo. Durante 14 anos teve que se debater, resistindo à sua família, que por força queria casá-la. Mais do que isso, incompreendida por seu confessor, que declarava seu voto nulo. E considere-se que se tratava de um sacerdote virtuoso, de tanto merecimento, que acabou por ser elevado à dignidade episcopal.
Acontece com as almas de eleição o que aconteceu com Jacó: têm de lutar com Anjos. Enquanto as pessoas imperfeitas têm de combater vícios, más inclinações, tentações da tríplice concupiscência, as almas de eleição têm de esmagar o que para outros poderia parecer dever de estado e até o santo dever de obediência ao diretor espiritual. É verdade que a regra é esta obediência, e a grande Santa Teresa mereceu diante de Deus, por haver obedecido ao seu diretor mesmo quando a aconselhava erradamente; mas no caso de Madre Francisca, a obediência iria ter resultados irreparáveis que comprometeriam irremediavelmente a sua vocação.
É o que, infelizmente, não é suficientemente compreendido: há certas ocasiões em que Deus desafia os seus escolhidos, para experimentá-los. Então, já não se trata de escolher entre o bem e o mal, mas entre deveres que se excluem, entre o bom e o ótimo. Se Francisca Carvalho do Rio Negro, em sua particular situação de predestinada, houvesse sido obediente aos desejos de sua família, a Igreja teria hoje uma ordem religiosa de menos.
* O desafio de Deus
Após anos, Francisca conseguiu convencer a todos desta verdade: Deus não a queria para o casamento. Quanto trabalho! Os pretendentes não lhe faltavam. Ela era de uma beleza pura, tranquila e firme. Em sua fisionomia tudo era calmo e preciso: a testa alta, o nariz longo, retilíneo e afilado, a boca rasgada num talho convicto e harmonioso, tudo enquadrado no oval elegante de seu rosto, e iluminado por dois olhos profundos, expressivos e resolutos. A sua beleza era grande e digna. Nela não havia nada deste “engraçadinho” estandardizado e caricatural de “girl” cinematográfica, tão do agrado da pusilanimidade do gosto moderno pervertido e diminuído, que só se compraz no que é miúdo e bonitinho. Mas é preciso reconhecer que a beleza plena e íntegra tem um cunho tão alto de intelectualidade, que constrange qualquer sensualidade…
Francisca vencera a primeira batalha. Agora, no meio dia dos trinta anos, sua natureza afirmava-se na madureza da idade, ao mesmo passo que a sua vida espiritual era um campo fértil e trabalhado. E ei-la livre, inteiramente desobrigada por sua família e por seu diretor, pronta para atender ao primeiro apelo d’Aquele a quem ela se consagrara de corpo e alma!
Então… então este apelo se fez esperar por mais três anos. Francisca se viu na condição de uma pessoa que após ter sacrificado tudo por um ideal, parece perde-lo quando pensa alcançá-lo. Seu diretor obrigou-a a fazer várias experiências, mas todas resultaram infrutíferas, sem que se descobrisse o gênero de vida que Deus queria dela. “Eu queria fazer a vontade divina, custasse o que custasse, era impossível descobri-la!” – havia de escrever mais tarde, nas notas sobre este período de sua vida.
Encontra-se por aí, com relativa frequência, a ideia de que é muito fácil descobrir-se a Vontade de Deus; bastaria que soubéssemos ver, em todos os acontecimentos, esta mesma Vontade, e assim, conformando-nos com Ela, fossemos vivendo placidamente os dias de nossa vida, sem nenhum receio de estarmos frustrando nossa vocação especial. Sim, isto é verdade, mas é, apenas, a primeira parte da verdade. Está certo no que se refere à negação do espírito de revolta. Mas também é certo que muitas vezes Deus permite situações desfavoráveis não para que nos submetamos passivamente, mas para que combatamos, com humildade sempre, com ardor, todavia.
* A fundação
Em pleno mar (era outubro; ela voltava, com sua mãe, de uma viagem ao Brasil, que, nunca mais tornaria a ver. Ela não era mais do que um ponto perdido na imensidade do Oceano, mas um ponto que era toda a predileção da Providência), em pleno mar, Francisca foi convidada por Deus para uma oração mais profunda; e, no meio do maior recolhimento, a bruma começou a desfazer-se, e ela começou, pouco a pouco, a ver claro em sua Vocação. Luzes extraordinárias começaram a instruí-la sobre o Sacerdócio, a Hierarquia Eclesiástica, o valor do Santo Sacrifício da Missa. E ela compreendeu que deveria ir a Roma, falar com o Santo Padre sobre a fundação de uma ordem religiosa que fosse destinada à oração e à imolação pelas intenções do Papa, pela Hierarquia e pelas vocações sacerdotais. Durante o resto da viagem este ideal se foi precisando, completando, esclarecendo, por obra d’Aquele mesmo que o havia inspirado.
Como de costume, não faltaram as contradições. Sua mãe e seu diretor, quando lhes expos seus desígnios, mostraram-lhe toda a dificuldade de semelhante pretensão. Mas, desta vez, não quiseram opor-se a nada. Pelo contrário, seu diretor escreveu uma carta de apresentação ao Cardeal Vives y Tuto, que lhe poderia conseguir a almejada audiência com o Santo Padre.
Enfim, em 13 de dezembro de 1910, foi recebida por S. Santidade Pio X. O grande pontífice, que ilustrou a Igreja pela santidade de sua vida, não tardou em perceber a origem sobrenatural dos ideais de Francisca. Concedeu-lhe várias entrevistas, e acabou por induzi-la a fazer um ensaio de fundação, à qual deu, desde logo, ao Cardeal Pompilli como protetor. Datam deste tempo suas primeiras companheiras, duas jovens que também se deixaram seduzir pelo elevado objetivo da imolação pelos interesses da Igreja. Para este pequeno grupo, o Santo Padre, em 26 de maio de 1912, concedeu o favor da Consagração das Virgens, o que se realizou pouco mais tarde, em 6 de fevereiro do mesmo ano. E este gérmen minúsculo da Companhia da Virgem fechou-se num apartamento do Corso d’Itália. Naquele momento as forças da civilização moderna ajustavam os lances gigantescos que deveriam determinar o futuro do mundo, um futuro naturalista e pagão; os preliminares da Grande Guerra já estavam concluídos. E, no meio desta imensa trama, Nosso Senhor estabelecia a conspiração mística de três pobres e frágeis mulheres, escondidas e humildes. O tempo, entretanto, há de mostrar quem era mais forte.
Com o desenvolvimento da fundação, tiveram de mudar-se para lugares mais espaçosos. Primeiro, a Villa Patrizi, perto da Porta Pia. Depois, a cômoda residência, cercada de jardins, da Via Tuscolana n° 367, esta já de propriedade da Congregação, onde a sua fundadora teve o cuidado de mandar construir uma pequena igreja, dedicada à Imaculada Conceição. Enfim, em 12 de junho de 1921, S. Em. o Cardeal Pompilli consagrou esse templo, e a casa recebeu o nome de ‘Priorado da Virgem’. Nesta ocasião, a baronesa do Rio Negro, achando que deveria dar plena liberdade à sua filha, voltou-se definitivamente para o Brasil. Se ainda algum laço prendia Francisca a este mundo, certamente era sua mãe. Este último desapegar-se foi-lhe dolorosíssimo. Daí por diante ela estava sozinha em terra estranha, mas também daí por diante a sua vida era Cristo.
* O maravilhoso
Então, Madre Francisca de Jesus atingiu aquela plenitude de vida cristã que é uma oposição ao terra a terra quotidiano, à mediocridade cíclica da rotina, que é uma libertação da vulgaridade do mundo exatamente porque as próprias coisas vulgares, que estão necessariamente ligadas ao viver terreno, adquirem um sentido novo e invulgar. É uma vida em segunda potência, em que as misérias, as tristezas e as alegrias são elevadas a um plano superior e transfiguradas, porque tudo é projetado para um ideal único, ao qual tudo se refere, tudo se sacrifica e tudo se compromete.
Já anteriormente Francisca tivera os primeiros reflexos desta vida maravilhosa. Aos 18 anos fora atingida, pela primeira vez, por aqueles sofrimentos de alma que são puramente espirituais, em que o fiel se descontenta profundamente consigo mesmo, na sua fome e sede de justiça, sofrimentos muitas vezes mais pungentes que as dores deste mundo, que não pode compreender tal razão de sofrer. Nesta abjeção de si mesma viveu 11 anos, quando, subitamente, foi iluminada por uma onda de consolações interiores em que ela começou a ser instruída sobre o objeto de sua vocação. Assim, muitas vezes recebeu graças extraordinárias, como as que já foram relatadas.
Agora, porém, depois da fundação, isto tudo atingiu a plena maturidade. Toda a sua vida tornou-se extraordinária, ainda mesmo quando resolvia as questiúnculas engendradas pelos equívocos, pelos mal-entendidos, pelas contradições, com que todas as fundações têm de se defrontar. Ao mesmo passo, voltaram-lhe, com redobrada violência, as penas interiores. E, como se tudo não bastasse, sua saúde comprometeu-se irremediavelmente, pois veio a contrair a terrível moléstia de Basedow, que é um envenenamento progressivo do organismo até a morte, envenenamento que vai ampliando a repercussão dos sofrimentos, de forma a transformar uma simples contrariedade num sofrimento quase intolerável. Por causa desta doença teve de sofrer uma séria operação em 1922. Logo no ano seguinte os médicos desesperaram de salvá-la; ela deveria ser operada novamente, desta vez de um abscesso no interior do crânio. Curou-se, entretanto, depois de uma novena a Pio X. Ainda outra vez foi curada milagrosamente de um flegmão, por intercessão de Santa Teresinha do Menino Jesus, que lhe apareceu.
Esta avalanche de contrariedades não impediu a fundadora de organizar cuidadosamente a vida interna de seu convento de contemplativas. Mas ela estava arrasada. Certa vez, em 28 de outubro de 1922, pensou sucumbir aos sofrimentos internos e externos que a submergiam. Num último alento, ainda encontrou forças para fazer este supremo oferecimento: “Entretanto, eu quero sofrer conVosco, meu Senhor Jesus”. Neste momento, ela viu ao seu Senhor Jesus, a Cruz às costas, seguido por uma turba ululante que lhe disse: “Quem sofreu tanto como Eu? Siga-me, preciso de ti. Recusarás vir?”
Não, não havia de ser a Madre Francisca de Jesus quem recusaria segui-Lo. Imediatamente Lhe pede perdão, e suplica-Lhe queira infundir um verdadeiro amor. Como lembrança desta graça extraordinária, a Santa Face de Jesus imprimiu-se na parede da cela, como outrora no lenço da Verônica.
Até hoje lá se pode ver, protegida por um vidro.
Ainda mais tarde, numa outra contingência em que a Fundação atravessava períodos difíceis, Madre Francisca, novamente assoberbada por abatimentos mortais, ouviu ao falecido Papa Pio X, que numa voz interior lhe disse: “À tua obra, que também é minha, nenhum mal será feito”.
Em fins de 1928, diversas postulantes, em que ela depositava as maiores esperanças, abandonaram o Priorado. Madre Francisca não era pessoa para se mover ao afeto por razões superficiais; mas o afeto, nela, era um sentimento profundo e forte, de como só as almas fortes são capazes, sem puerilidades ou sentimentalismos, mas grande, generoso e, mais do que tudo, racional. Aquele “forfait” de suas filhas mais queridas atingiu-lhe o fundo da alma, portanto, e despedaçou-lhe o coração. Uma voz interior se fez ouvir para a consolar: “Serás sacudida, tu e a tua barca, mas nem tu, nem a tua barca naufragarão”.
* “Tu me tens amado”
Assim, a última fase de sua vida foi recoberta daquela poeira dourada, que se encontra nos “Fioretti” e na “Legende Dorée”. Os seus menores gestos tinham uma repercussão sobrenatural. Entretanto, acima de tudo isso, pairava habitualmente uma obscuridade compacta, de tal forma que Madre Francisca julgava haver perdido a fé. Ela se sentia tão cética como um livre pensador, e, contudo, ela cria porque queria crer, num esforço sobre-humano da vontade, que afrontava a escuridão da inteligência. E o seu sangue a envenenar-se, a envenenar-se cada vez mais, de modo a colocá-la próxima dos limites da demência…
Datam desta época os mais belos e inspirados escritos de Madre Francisca, pois que as suas trevas eram iluminadas momentaneamente por luzes vivíssimas, que a mergulhavam num mar de felicidade. Estes escritos são um alimento espiritual de primeira ordem, e aproximam, singularmente, sua autora dos grandes contemplativos que a Igreja produziu.
Assim discorreu pelos últimos anos de sua vida, até que entregou, santamente, a alma ao Criador, em 28 de maio de 1932. Dois anos antes ela escrevera a suas filhas: “É preciso amar Nosso Senhor generosamente, até a destruição de si mesmo, o que é absolutamente necessário, se se quer amá-Lo verdadeiramente”. Pois bem, Madre Francisca fora destruída de tal forma que nela já não havia senão o que o próprio Jesus Cristo edificara; em verdade, ela nascera novamente, havendo morrido tudo quanto nela era do pecado.
Depois de sua morte, grandes prodígios em curas e conversões se realizaram, mediante sua intercessão. Mas maior prodígio foi certamente o fato da Companhia da Virgem vir a perder a casa da Via Tuscolana, 367. Ao que parece, nem tudo fora convenientemente previsto no negócio da compra, e as pobres freiras foram vítimas de uma evicção, sendo desalojadas do Priorado, que lhes era tão caro. Como seria possível que uma Ordem, evidentemente abençoada pela Providência, sofresse semelhante revés? É verdade que, com isso, a Companhia mudou-se para o Brasil, para Petrópolis, vindo rezar pelas vocações neste país de clero escasso, berço de sua fundadora. Mas tudo não poderia ter-se passado de outra forma, sem aquele rude golpe, que mais parece um castigo?
Certa vez Madre Francisca de Jesus recebeu uma dessas notícias negras, que revelam adversidades maciças e totais, e ela exclamou, cheia de desalento: “Mas Senhor, que foi que eu Vos fiz, então?” Ao que Jesus Cristo imediatamente lhe respondeu: “Tu me tens amado”.
(Plínio Corrêa de Oliveira)