CAPÍTULO XX – O PENSAMENTO ORGULHOSO DE UM MONGE
“Um dia, quando o venerável Pai tomava, já à tardinha, a refeição do corpo, um dos seus monges, filho de certo defensor, estava presente, segurando-lhe o candeeiro diante da mesa. Enquanto o homem de Deus comia e ele assistia, fazendo o ofício da candeia, o jovem, tomado pelo espírito de soberba começou a revolver, calado, em sua mente, e a dizer de si para si, estas palavras: “Quem é este a quem eu assisto enquanto come, seguro o candeeiro e presto serviço? Quem sou seu para que lhe deva servir?” Voltando-se no mesmo instante, o homem de Deus entrou a repreendê-lo com veemência, dizendo: “Persigna o teu coração, irmão; que dizes? Persigna o teu coração!” E, tendo chamado sem mais demora os outros irmãos, ordenou-lhes que lhe tomassem o candeeiro das mãos, e a ele, que deixasse o serviço e fosse na mesma hora sentar-se sossegado. Perguntaram-lhe, então, os irmãos o que tivera no coração, e ele por ordem contou de quão grande espírito de soberba se enchera, e as palavras que em pensamento dizia, calado, contra o homem de Deus.
Tornou-se assim bem manifesto a todos que nada podia ficar oculto ao venerável Bento, em cujos ouvidos haviam ressoado até as palavras de um pensamento mudo.”