CAPÍTULO 5 - A GRAÇA DE DEUS
Do amor de Nosso Senhor à graça de Deus, não há mais que um passo e este não é grande.
Em algumas palavras duma limpidez perfeita, São Bento nos entregou o seu pensamento sobre a graça de Deus. No prólogo da santa Regra, ele fala daqueles que, “temendo a Deus, não se exaltam absolutamente por causa de sua boa observância e, reconhecendo que o que eles têm de bom, não lhes é possível absolutamente por si mesmos, mas que é obra do Senhor, glorificam o Senhor que neles opera”.
Mais adiante, o santo patriarca exprime a mesma idéia com um desenvolvimento importante; ele dá a seu discípulo este conselho: “Quando vir em si mesmo algum bem, que o atribua a Deus e não a si; saiba contudo que o mal é sempre obra sua e a si o impute”.
Aí está perfeitamente a doutrina que São Cipriano exprimia outrora com estas palavras bem conhecidas: “Nós não nos podemos gloriar de nada, visto que nada é nosso: In nullo gloriandum, quando nostrum nihil est”.
Mas onde o pensamento de São Bento se revela na sua totalidade, é quando trata do que deve fazer o abade após ter empregado todos os meios de correção para com um religioso que permanece incorrigível. “Se ele vê, diz, que com toda a sua diligência, nada obteve, que empregue no caso, o que é maior: a sua prece e a de todos os irmãos, a fim de que o Senhor, que tudo pode, opere a salvação deste irmão enfermo”.
Aqui São Bento tinha em vista esta graça que o coração mais duro não rejeita, uma vez que ela é dada para tirar a dureza do coração. São os mesmos termos de Santo Agostinho, e São Bento é da escola dele.
Um monge beneditino, escrevendo um dia a Bossuet, lhe dizia: “Todos nós Beneditinos fomos sempre extremamente apegados aos sentimentos de Santo Agostinho”.
Todos!
Sempre!
Extremamente!
Este monge beneditino se chamava Dom Mabillon.