CAPÍTULO 10 - A ORAÇÃO

O corpo se alimenta em parte pela respiração, e em parte pelo pão de cada dia. A alma tem também necessidade de alimento: o seu pão é a Eucaristia; sua respiração é a oração. Também Nosso Senhor diz: É preciso rezar sempre. E São Bento nada recomenda tanto a seu discípulo como a oração.

A prece é o próprio âmago da vida monástica: o ofício divino é a sua expressão mais solene; mas a isto é mister acrescentar uma oração interior que deve, sem cessar, fazer subir para Deus todos os atos da vida religiosa. “Tudo o que empreenderes, diz São Bento, pede a Deus, por uma insistente oração, que Ele mesmo queira levá-lo a cabo. Quidquid agendum inchoas bonum, ab eo perfici instantissima oratione deposcas”.

Há, contudo, certas circunstâncias em que São Bento recomenda mais particularmente a oração. Se um religioso se ausenta do mosteiro, ele deve pedir as orações de toda a comunidade; e as pede igualmente quando volta; se se apresentam hóspedes, é preciso rezar ao recebê-los antes mesmo de os cumprimentar. Durante a Quaresma, é preciso juntar as lágrimas à oração: Orationi cum lacrymis operam demus.

Se no mosteiro se acha um religioso incorrigível, o Abade, após ter esgotado todos os recursos que lhe podem fornecer a caridade, as reprimendas, as punições, recorrerá, por fim, à oração. – “Se ele vê que, com toda a sua diligência, nada conseguiu, que empregue ainda o que é maior, a saber a sua oração e a de todos os irmãos com ele, a fim de que o Senhor, que tudo pode, opere a salvação deste irmão enfermo. Adhibeat etiam (quod majus est) suam et omnium fratrum pro eo orationem, ut Dominus, qui omnia potest, operetur salutem circa infirmum fratrem”.

Outra recomendação de São Bento, a respeito da oração, é a de oferecê-la a Deus pelos nossos inimigos e isto no amor de Jesus Cristo. In Christi amore pro inimicis orare.

Enfim, para dar uma idéia mais completa da doutrina de São Bento sobre a oração, citamos o capítulo XX da Regra:

Do Respeito que deve acompanhar a Oração

“Se, quando queremos pedir algum favor aos poderosos, não ousamos fazê-lo a não ser com humildade e respeito, quanto mais, ao dirigir-nos a Deus, soberano Senhor de todas as coisas, devemos suplicar-lhe com profunda humildade e devoção pura. E saibamos que seremos atendidos não pela multiplicidade de palavras, mas pela pureza do coração e pelas lágrimas da compunção. E para isto a oração deve ser curta e pura, se não for prolongada por uma moção particular, uma inspiração da graça de Deus”.

 

Assim pensava, assim rezava São Bento, cujo coração, segundo o testemunho da própria Virgem Santíssima, era totalmente cheio de Deus, erat cor ejus totum plenum Deo.

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