A cada dia em que temos acesso aos meios de comunicação social percebemos, nitidamente, como o mundo vive em contínuo conflito; nosso olhar muitas vezes dirige-se para longe, nos impedido, então, de perceber que a violência está bem mais próxima do que imaginamos: vivemos, portanto, em um mundo onde pululam situações de total ausência de paz, exatamente por que faltam a esse mundo, lugares e momentos de diálogo, necessariamente, construtores da justiça que conduzem a harmonia e a paz. Oxalá as mídias fossem sempre uma verdadeira rede de comunicação, comunhão e cooperação, como desejava o Santo Padre, o Papa Emérito Bento XVI, em sua mensagem para o 40º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Esses meios são também instrumentos para a construção da PAZ, mas nem sempre agem concretamente para que isso, de fato, se efetive.

Nos mosteiros beneditinos encontramos, por tantas vezes, quase sempre à porta, a inscrição PAX, que não quer dizer uma simples ausência de conflitos, pois onde se não os tem, a não ser na vida beatífica; mas a paz beneditina que significar, na realidade, a existência de um espaço, de um tempo, para a escuta, da qual brotará, nomeadamente, o diálogo que, instaurado em Cristo e por Cristo conduzirá à concórdia e, consequentemente, a uma harmoniosa paz. Não é, certamente por acaso, que São Bento, nosso Pai, inicia a sua Santa Regra com o verbo ‘escutar’, que é, portanto, a primeira atitude de quem quer empreender um enriquecedor e duradouro diálogo.

Em sua Santa Regra, que sem dúvida alguma é, para nós, a verdadeira relíquia que nos legou São Bento, encontramos ao menos sete momentos em que ele faz referência à PAZ.

Nos quatro primeiros momentos ou dessas situações a paz vem apresentada como um estado de espírito, uma atitude, uma meta que se pretende alcançar ei-los:

Prol. 17: “Se queres possuir a verdadeira e perpétua vida, guarda a tua língua de dizer o mal e que teus lábios não profiram a falsidade, afasta-te do mal e faze o bem, procura a PAZ e segue-a” – São Bento indica, desse modo, ao citar o Sl 33,14-15, que o caminho que devemos percorrer, por primeiro, é exatamente aquele que se inicia pela atitude de se frenar a língua, ou seja, usar da palavra para o diálogo, para a comunicação, para a compreensão que conduza a harmonia e a paz, evitando que ela seja fonte da discórdia.

4,73: “Voltar a PAZ, antes do pôr-do-sol, com aqueles com quem teve desavença” – Essa citação provém da Epístola do Apóstolo São Paulo aos Efésios 4,26, atestando, assim, claramente, que conflitos, obviamente existirão, mas sempre devemos nos disponibilizar para recomeçar, pois essa deve ser a contínua atitude do verdadeiro discípulo, retomar o caminho, seguindo os preceitos, do quais dantes havia se desviado.

34,5: “E, assim, todos os membros da comunidade estarão em PAZ” – porque receberão igualmente o necessário, não havendo, desse modo qualquer acepção de pessoas, coisa que, se existe, acaba por gerar, consequentemente, o vício da inveja.

65,11: “Por isso achamos conveniente, para a defesa da PAZ e da caridade, que dependa do arbítrio do Abade a organização do seu mosteiro” – a organização na comunidade produzirá, na realidade concreta, o espaço e o tempo necessários para que se viva em harmonia, princípio que conduz a verdadeira concórdia e a paz.

Na outras três vezes, São Bento, refere-se a PAZ, na dimensão do ósculo santo, que comumente, hoje veio a ser substituído por outro tipo de cumprimento dentro da celebração do Augustíssimo Sacramento da Eucaristia:

4,25: “Não conceder PAZ simulada”; 53,5: “Não seja oferecido esse ósculo da PAZ sem que, antes, tenha havido a oração, por causa das ilusões diabólicas” e 63,4: “Portanto, segundo a ordem que ele tiver estabelecido ou que tiverem os irmãos, apresentem-se estes para a PAZ, para a Comunhão, para entoar os salmos, para estar no coro”. – retirando qualquer ruído que possa ocultar a verdade, portanto, evitando-se ocorrer uma falha na comunicação, São Bento assinala que a PAZ deve brotar como consequência da sinceridade, da vida de oração, da organização da própria comunidade.

Em sua primeira mensagem para o Dia Mundial da Paz, celebrado a cada 1º de janeiro, e que teve como tema: “na Verdade, a Paz“, Sua Santidade, o Papa Emérito Bento XVI,  asseverou:

“O próprio nome – Bento – que escolhi no dia da eleição para a Cátedra de Pedro, pretende indicar o meu convicto empenho a favor da paz. De fato, com ele quis fazer alusão seja ao Santo Patrono da Europa, inspirador de uma civilização pacificadora no Continente inteiro, seja ao Papa Bento XV, que condenou a I Guerra Mundial como um « inútil massacre » empenhando-se para que fossem reconhecidas por todos as razões superiores da paz”.

Que São Bento continue a nos inspirar na construção de uma civilização de PAZ, na busca da unidade, no respeito das diferenças, que sempre nos enriquecem!

D. Hugo da Silva Cavalcante, OSB

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