3. – ESPÍRITO DE IMOLAÇÃO

O Pe. Muard queria que seus filhos se considerassem como “homens votados por estado à prática da penitência, encarregados de satisfazer a justiça de Deus por suas próprias iniqüidades e pelas de seus irmãos, por conseguinte, cuja vida seja uma contínua imolação de sua vontade, de seu julgamento, de seu corpo e de todas as satisfações dos sentidos pelo duplo gládio da mortificação interior e exterior”.

“É preciso que na Obra nós sejamos todos hóstias vivas inteiramente consagradas. O mosteiro é uma casa de penitência. As observâncias, os artigos fundamentais da Regra têm por base a penitência. A Regra é uma regra de mortificação e penitência: ela doma a nossa natureza com uma destreza, com uma ordem, uma suave e inexorável perseverança. Em vão se procurará num dia beneditino o que a nossa natureza ferida pelo pecado original pode encontrar de satisfação para as suas vis inclinações.”

“Mas nenhum detalhe da penitência regular ultrapassa a medida das forças ordinárias. Os atos de penitência devem ser regrados pela discrição. Nosso Pai São Bento foi mais admirável nesse ponto do que São Bernardo. Este só se tornou imitável, porque se aproximou pouco a pouco da moderação do grande Patriarca. Quando os santos não fazem o que é preciso, o espírito de Deus a isso os conduz pouco a pouco com o tempo.” – Sob pretexto de discrição não se introduziria o relaxamento? – “Devemos temer menos a alteração e a perda de nossa saúde do que o relaxamento da austeridade e da penitência. Devemos nos exercitar mais a nos mortificar do que a cuidar de nós mesmos. Poupar-se é prejudicar-se. Sem penitência, nada de vida interior, nem de perfeição, nem de santidade. Nosso Senhor não mudou o molde da santidade; esse molde é a Cruz sobre a qual se imolou por nós.” O estado monástico é um estado de penitência “pelo fato de seguir mais de perto Nosso Senhor Jesus Cristo carregando sua Cruz.”

Como falar, depois disso, de discrição? – “Há o espírito de penitência e os atos de penitência.” O Pe. Muard diz que “o espírito de penitência é constituído pela mortificação interior que consiste em combater nossas inclinações, nosso amor próprio, nosso humor, todos nossos defeitos e, acima de tudo, a nossa paixão dominante. Sem esse espírito não se saberia ser verdadeiramente religioso. A mortificação corporal é, sem dúvida, muito útil para nos manter no fervor; ela é mesmo obrigatória para todos. Mas ela é pouca coisa, ou melhor, não é nada, se não for vivificada pela mortificação interior que é sua alma. É o sacrifício que agrada ao Senhor, o holocausto de suave odor que Ele ama receber da criatura.” “Jesus nos pede, sobretudo, uma imolação íntima nas pequenas virtudes quotidianas, o martírio de uma vida sem mancha e inteiramente devotada. Numa tal vida, o sofrimento se acha seguramente na medida em que determine a sábia vontade de Deus, e pode acontecer que o martírio da vida quotidiana seja mais difícil e mais doloroso do que o martírio da morte.”

A Regra tende a nos dar esse espírito de penitência… “A vida monástica é estabelecida de maneira a provocar a espontaneidade da penitência. Sem a espontaneidade, nós oferecemos a Deus uma penitência sem brilho. Ele não pode ficar satisfeito. A penitência espontânea, cheia de ânimo, de ardor, é essa que se oferece convenientemente a Deus.”

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