CAPÍTULO 7 - O ABADE

Sendo o mosteiro a casa de Deus, o abade deve ser considerado como lugar-tenente de Jesus Cristo. São Bento di-lo expressamente: Christi agere vices in monasterio creditur.

Segue-se daí que seu governo deve ser uma imitação do governo de Deus. Escreveu-se outrora um livro sobre esta questão: Qual é o melhor governo, o rigoroso ou o brando? O melhor governo, segundo nós, é aquele que imita mais perfeitamente o de Deus, o qual governa com a autoridade que sabe empregar o melhor possível a doçura, quando esta se requer e o rigor, quando este é exigido. Tal é a autoridade de Deus, tal deve ser o chefe do mosteiro conforme São Bento.

São Bento adverte ter o Abade um encargo difícil, o de governar almas e de adaptar-se aos caracteres de muitos. Difficilem et arduam rem regere animas et multorum servire moribus. Servire! Aí está um dos deveres do abade.

Seu cargo lhe é dado a fim de ajudar os fracos, não para tiranizar os bons: Noverit se infirmarum curam suscepisse animarum, non super sanas tyrannidem.

Deve aplicar-se a ser útil a seus irmãos e não a fazer-se prevalecer: Prodesse magis quam praeesse. Toda a antigüidade repetiu com tanta admiração como complacência esta bela máxima de São Bento.

Como cada um encontra em si o poder de amar e o de odiar, o Abade deve saber regular em si mesmo estas afeições de sua alma. Deve odiar todos os vícios e amar todos os seus irmãos. Oderit vitia, diligat fratres.

Deus quer ser temido, porém mais ainda quer ser amado: fiel imitador do governo de Deus, o Abade aplicar-se-á, também ele próprio, mais a ser amado do que temido. Studeat plus amari quam timeri.

Depois, como o Abade não passa de um lugar-tenente de Nosso Senhor, ele deverá pensar nas contas muito exatas que Lhe dará de sua alma e de todas as que serão a si confiadas. São Bento não se cansa de repetir esta advertência ao Abade; e a propósito de todos os seus deveres, tanto no temporal como no espiritual, a propósito de todas as suas decisões, ele traz à memória do Abade o julgamento de Deus.

Enfim, exige dele uma virtude indispensável: a discrição. O Abade deve temperar todas as coisas de tal maneira que os fortes desejem fazer mais e que os fracos não venham a desanimar: Sic omnia temperet, ut sit quod fortes cupiant et quod infirmi non refugiant.

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