7. – O REFEITÓRIO

“Nos mais antigos mosteiros, a arquitetura do refeitório imita fielmente a arquitetura tão imponente e religiosa da igreja. Para que essa imponência, se o refeitório só servisse para aí se tomar os alimentos tão pobres da austeridade monástica? Não é por causa da palavra de Deus e das orações especiais que precedem e seguem as refeições? Eu penso que sim.”

No princípio da refeição se canta, solenemente, uma passagem da Sagrada Escritura. – “Sem dúvida, por essa leitura pública, fazemos um ato de grande reverência para com a Sagrada Escritura. É preciso, entretanto, ser realmente senhor de si mesmo para, num momento como esse, apreender não digo toda a leitura, mas mesmo alguma coisa da leitura, algo que se recolhe e que permanece. Que se conseguisse uma frase, já estaria bom! Se fôssemos atentos, não digo com uma atenção de contemplação (não é possível durante a refeição), mas com uma atenção suficientemente desperta – “O que se lê? Qual o sentido do texto?” – se fôssemos atentos o suficiente para recolher a cada leitura da Sagrada Escritura uma migalha, uma frase, Deus o veria bem. Ele veria que nós O procuramos, que queremos encontrá-Lo, que desejamos receber dEle uma luz. Ele não deixaria de corresponder à nossa disposição interior.”     

Em seguida, faz-se uma leitura durante toda a refeição. “ÀS MESAS DOS IRMÃOS NÃO DEVE FALTAR A LEITURA”, diz São BentoQuais livros escolher?

1º Eliminar tudo o que for medíocre, simplesmente curioso ou moderno demais;

2º Ater-se rigorosamente aos bons livros, de preferência aos antigos, de uma ortodoxia virginal, referindo-se à Igreja, ao nosso santo estado e capazes de se impor por estas quatro características: instrução, edificação, interesse, valor literário;

3º Certos artigos de jornal não estarão deslocados, desde que:

1) sejam de interesse geral;

2) essa leitura não seja freqüente;

3) o jornal seja de um catolicismo realmente puro e romano.

Como se deve ler no refeitório? – “É preciso edificar os ouvintes, que devem entender o que está sendo lido. Nada fica audível sem uma articulação bem clara. A condição para que a leitura interesse é que ela penetre no espírito e que ela leve a ele o sentido que lhe é próprio. Somente a articulação dá às palavras o tom que lhes convém.”

De que modo come o monge? – “A vontade eficaz de se mortificar em alguma coisa, juntamente com a oração, formam a condição indispensável para que um monge não deixe de ser monge cada vez que é obrigado a tomar seu alimento.” – A que horas toma sua refeição? – “O horário do claustro para as refeições se aproxima bastante do horário do mundo.” Antigamente, durante a Quaresma, os monges ficavam em jejum até a tarde. Até os próprios trapistas tiveram que renunciar a esse jejum. “Há muito tempo já, apesar de seu zelo pela observância, eles não podiam mais, exceto em número muito pequeno, observar completamente o horário antigo. Chamado várias vezes para lhes pregar retiros, tive a felicidade de ver os últimos que mantinham um horário de jejum que, ao que parece, não deverá voltar, estando as forças hoje em dia tão diminuídas. De certa forma, com meios diferentes mas equivalentes, os discípulos da Regra encontram e praticam o jejum. O espírito da Regra impõe e faz aceitar, de bom grado, a privação de muitas coisas supérfluas e a refeição em horas bem determinadas.”

São Bento estabeleceu que todos seus monges “ABSTENHAM-SE COMPLETAMENTE DE CARNES DE QUADRÚPEDES, EXCETO OS DOENTES DEMASIADAMENTE FRACOS”[82]. “Na vida monástica, esse preceito de abstinência é fundamental.” O Pe. Muard assegurava que é o “mais possante meio de conservar o espírito de sua congregação”. Mas ele levava a abstinência mais longe que São Bento, decidindo que seus filhos se contentariam com “legumes, verduras ou hortaliças e frutas”, excluindo “todo tipo de carne, peixe, ovos, manteiga, queijos e laticínios, óleo, açúcar e mel”83 . “Pio IX pediu que os Beneditinos de La Pierre-Qui-Vire se contentassem com o texto da Regra.” – Os senhores mantêm a abstinência dessa forma? – “Nós proclamamos e queremos, para sempre, em nosso mosteiro, a lei da abstinência tão claramente e tão discretamente instituída por Nosso Glorioso Pai, sempre renovada pelos santos reformadores, tão amada pelo nosso Pe. Muard, enfim, conservada em nossos dias, com a bênção da Igreja, no seio de todas as ordens que retomaram a observância antiga. Seria uma falta capital tocar no princípio da abstinência e estabelecer que a comunidade comeria carne “tantas vezes” por semana. Não se poderia criticar as comunidades que, em razão da debilidade bastante evidente do temperamento atual, praticam a dispensa geral durante uma parte do ano. Mas é preferível manter o princípio da abstinência tal qual ele está formulado na Regra.”

Entretanto, em suas cartas, percebe-se que o senhor estava preocupado em melhorar o regime de sua comunidade. – “Para facilitar a prática da abstinência, a fim de que um número maior possa mantê-la.”

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