5. – O SAGRADO CORAÇÃO
O Pe. Muard escreveu em suas Constituições: “As virtudes que devem constituir o espírito de nossa Sociedade são as virtudes por excelência do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de sua Mãe.” É o motivo pelo qual ele coloca sua sociedade “sob o patronato do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria”. “É preciso que nos lembremos como de algo essencial que fomos consagrados pelo nosso fundador ao Sagrado Coração de Jesus, sob a proteção de Santa Margarida Maria. Somos filhos do Sagrado Coração de uma maneira muito especial, por sua vontade, pela vontade de nosso santo fundador. Nós lhe pertencemos para sempre e temos, assim, direito às suas riquezas. Devemos usufruir delas.”
Para o senhor, o que é o Sagrado Coração? – “O Sagrado Coração? Mas é Nosso Senhor Jesus Cristo! Digo Sagrado Coração, porque desde minha entrada em religião tomo sempre como referência o Pe. Muard e Santa Margarida Maria… Mas é a devoção a Nosso Senhor Jesus Cristo! La Pierre-qui-Vire foi fundada sob a proteção obrigatória do Sagrado Coração de Jesus. É realmente Nosso Senhor Jesus Cristo, é seu Coração. E para nós, filhos do Pe. Muard, não há em que hesitar.”
As duas comunidades de En-Calcat e de Santa Escolástica são especialmente consagradas ao Sagrado Coração… “Foi num movimento de seu Coração, por um apelo bem distinto, que Ele fez surgir as duas comunidades. Sim, nós somos do Sagrado Coração. Foi Ele quem dirigiu as duas fundações. Ele quem, até hoje, nos protegeu sem cessar, como Ele sabe fazer. Sem a sua assistência, não somente não teríamos podido começar, mas seríamos incapazes de continuar. E, a esta altura, o que nos teríamos tornado?”
“Somos mesmo os filhos do Coração de Nosso Senhor, sob a Regra de São Bento. Quando se é chamado, como o fomos, à honra de professar a Regra de São Bento numa casa que o próprio Sagrado Coração edificou, é preciso não negligenciar nada para manter-se nas fileiras desta falange dos verdadeiros amigos do Coração de Jesus. Oh! que o Coração de Jesus dê a cada um de nós o dom mais precioso que Ele pode dar, o dom do amor verdadeiro. Compreender o que é o amor, nos dispor a amar. Que Ele nos conceda concentrar neste amor por Ele toda nossa vida espiritual. A vida espiritual se subdivide, se distingue em virtudes, ela tem inúmeros graus, mas é tirada do amor que Nosso Senhor nos tem e do amor que Ele espera de nós. Que bela vocação, meus caros filhos, e que meio Deus nos dá de corresponder a ela pela Regra de São Bento e por toda ordenação de nosso estado monástico! Não é de se admirar que as primeiras manifestações do Sagrado Coração de Jesus, as menos conhecidas talvez, mas as mais antigas e as mais autênticas se tenham operado à sombra do claustro beneditino. Não é de se admirar que Nosso Senhor tenha escolhido um dos seus servidores mais obscuros e mais desprezados ainda, para colocar sob a Regra e na Ordem de São Bento toda uma falange de beneditinos e de beneditinas. O Coração de Jesus quer manifestar seu amor até a consumação dos séculos. Consagremo-nos a Ele, cada um em particular e de todo o coração. Mas este não deve ser um ato passageiro de nossa piedade; é preciso que em nossa consagração haja uma espécie de contrato entre o Coração de Jesus e os nossos corações.”
Que recebemos neste contato permanente com o Coração de Jesus? – “O amor… O amor quer o amor. O amor procura o amor!” Então tornamo-nos um perfeito beneditino, um monge vivendo sua Regra. “O coração se lança vigorosamente para seu amor principal, as aspirações e as esperanças vêm em seguida… Deus não põe limites às graças que Ele quer nos dar. Por que colocamos limites às nossas esperanças, aos nossos desejos? Somos pequenos, pequenos por essência, mas grandes por pertencer à Igreja, pelo batismo, pela confirmação, pelos sacramentos, pelas graças recebidas, e é preciso fazer o que diz o profeta: “Dilata os tuum et implebo illud”. “Dilatai vosso coração!” Que ele não seja trêmulo, pusilânime, mas que exulte de esperança sobrenatural por causa dos méritos infinitos de Nosso Senhor. Mais uma vez, Nosso Senhor nos impõe limites? Absolutamente. Ele nos impele a receber.”
“Nossa vocação é a santidade. A santidade adquirida, resposta necessária ao Amor divino, é isso o que nos foi pedido e que devemos dar sem limites. É a lição quotidiana de Jesus às nossas almas. Ele nos espera no Cenáculo da vida interior que é “Ele em nós e nós n’Ele”, noite e dia, em companhia e na solidão, no meio das ocupações ou no vagar, através das palavras ou no bem-aventurado silêncio. Se Ele permanece conosco e nós com Ele, isto basta. O Amor está presente, Ele reina e comunica sua vida, e esta vida é de Deus e se eleva sem cessar para Deus. Ela permanece e se comunica. A vida interior é Jesus presente, conhecido, amado e nunca suficientemente servido, na calma, na paz, numa morte aparente e numa vida muito intensa.”
“Mas, se a vida de Jesus quer realmente se esconder nas aparências da nossa, ela não quer ser limitada, nem desfigurada, nem alterada, nem constrangida, nem interrompida, nem condicionada. Essa vida divina e humana quer pouco a pouco absorver, elevar e divinizar a nossa.” – Como fazer para não atrapalhá-la? – “Peçamo-la e deixemos Jesus realmente livre para nos conduzir. Ele sabe que por nossas próprias forças não poderíamos nos dar a santidade, e Ele se encarrega disso.”
Ele quer que sejamos santos… “Nosso Senhor necessita de santos e de santas para renovar o mundo e divinizar a terra.” – É por isso que Ele chama certas almas à vida monástica… “É preciso santos e santas entre nós, ou então a Obra não durará. Há uma proporção entre a santidade e a duração dos mosteiros. Vi muitas fundações. Quando não há o puro espírito de Deus e a santidade, não há êxito. O que conduziu tantos mosteiros ao fundo do abismo foi a predominância do natural em relação ao sobrenatural, da sabedoria humana sobre a divina.”
“Nossos mosteiros devem ser casas de santidade. Jesus quer a santidade para as duas famílias. Ele só as abençoará na proporção dos esforços nesse sentido. Nossa divisa é:
“sint sancti aut non sint.”