4. – ESPÍRITO DE POBREZA
“Beneditino” e “pobre”, são termos que se atraem mutuamente e nunca deveriam ficar separados.”
“Não se pode conceber a pobreza prática com mais rigor do que o faz São Bento. Com sua costumeira discrição, ele não impõe nenhuma prática singular nos detalhes aparentes dessa virtude, e várias passagens mostram que os monges devem evitar ostentá-la. Mas ele quer todos os seus santos rigores, e o gênio da Regra a imprime em todos os detalhes materiais relacionados à comunidade ou às pessoas. Em algumas palavras inspiradas, ele desapega o monge de todo bem visível, seja ele qual for, e o põe num estado de dependência que lembra de maneira tocante o estado em ficou o divino crucificado. Quando Deus suscitou na Igreja a ordem franciscana, esta só teria que imitar São Bento, se seus discípulos tivessem querido observar o capítulo trinta e três da Regra.”
Por que essa pobreza? – “Os bens deste mundo quando possuídos, possuem também. A virtude de pobreza é o sacrifício de todos os bens exteriores feito com o desapego do coração e da vontade. O que há nesta terra que seja digno da alma humana? Nada que aparece, nada que é criado, nada que pertence à ordem sensível é digno da alma, mas unicamente e acima de tudo Deus, Deus conhecido, amado, possuído pela esperança até que seja possuído na beatitude. A pobreza cristã é o desprendimento de tudo o que não é Deus.” Se nos apegamos a uma criatura, fazemos injúria a Deus… “Não há nada pequeno em matéria de pobreza, como não há nada pequeno em matéria de castidade.”
“O Pe. Muard queria que a pobreza em espírito e interior fosse uma das características marcantes de sua família religiosa. Sejamos pobres:
1. “Pobres em nossa maneira de apreciar, de julgar, de administrar a si mesmo. O que pede a pobreza? O sacrifício do supérfluo, a restrição do útil; ela tende a se limitar ao necessário e indispensável. Aí está o espírito de pobreza. Impossível carregar o peso da pobreza procurando as comodidades da vida. Quando nos encontramos diante de uma privação, que nosso primeiro movimento seja: “Em boa hora! Deo gratias!” É Deus que no-la dá para sua glória. Se Ele quer que careçamos de tudo, ainda melhor! Os bons monges devem amar a pobreza especialmente quando ela vem acompanhada de privações e de desconforto. Onde está o mérito de um pobre a quem não falta nada?”
2. “Pobres em nossas relações com as pessoas da comunidade encarregadas de prover as nossas necessidades. O domínio do pobre, segundo São Bento, se reduz somente à esperança em Deus e em seu Abade. Um pobre só tem direito à sua pobreza. “TODAS AS COISAS NECESSÁRIAS DEVEM ESPERAR DO PAI DO MOSTEIRO, lê-se na Regra. NÃO SEJA LÍCITO A NINGUÉM POSSUIR O QUE O ABADE NÃO TIVER DADO OU PERMITIDO”. “Esperar, aguardar da autoridade o que é indispensável: alimentação, vestuário, alojamento… mas como convém a pobres. Esperar o necessário daquele que é o pai do mosteiro não exclui absolutamente o pedido; ao contrário, pois o pedido é um ato de indigência, de dependência e de humildade.” – Pode-se pedir tudo o que se deseja? – “Sob pretexto de permissões obtidas pode-se ter a seu uso muitas coisas; ao útil segue o agradável, o supérfluo leva ao luxo. Isso não é espírito de pobreza!…”
“Mostrar-se delicado, difícil, é isso a pobreza? São exigentes, logo não são pobres. O verdadeiro pobre está sempre contente com o que lhe é dado. Dão-lhe tal coisa: muito bem! Perfeito! Não é novo? Que importa! Não está bom? Coma sempre com a bênção de Deus! Aí está o espírito de pobreza.”
“É preciso lembrar que somos pobres e querer ser tratados como pobres.”
“É graças a uma multidão de pequenas circunstâncias que se reconhecem os verdadeiros pobres. É fácil discerni-los!”
O Pe. Muard dizia que a santa pobreza seria “o verdadeiro tesouro dos beneditinos do Sagrado Coração”, que ela devia “brilhar por toda parte”.
“Todo o edifício religioso repousa sobre a pobreza. Os Padres da Igreja, os Doutores diziam que a pobreza alimenta a vida religiosa, porque a vida interior se apóia necessariamente sobre a penitência, e a penitência não poderia subsistir sem a pobreza.”