3. - ESPÍRITO DE SILÊNCIO

“Tudo o que há de mais nobre no homem é interior: o pensamento, o julgamento, a sabedoria, a vontade… A língua, os lábios, são os únicos instrumentos capazes de dar uma vida aparente, externa, a esses segredos que só Deus pode penetrar e que nossa consciência revela, os segredos do pensamento, do sentimento… Mas a tendência de todas as almas dominadas pela influência da vida interior é se calar. “Sedebit solitarius et tacebit”.

Elas desconfiam da língua… “É o instrumento mais ativo do bem, mas também do mal, do progresso no bem e do progresso no mal. A língua, esse pequeno instrumento pérfido, numa pequena volta rápida, nos faz cometer numerosas faltas. Procure e verá que ela é sempre o grande instrumento do mal: ela excita a todos os crimes. Todos os caminhos das paixões que carregamos em nós chegam na língua. Se fosse possível isolá-la… mas ela se relaciona com todo o resto! Todas as paixões têm licença de tomá-la para seu serviço.” São Bento põe na boca de seu discípulo, “A FIM DE QUE ELE NÃO PEQUE PELA LÍNGUA”, uma guarda, uma sentinela, “CUSTODIAM”, e o torna mudo como o salmista . “Desde a primeira até a última linha da Regra, São Bento é desconfiado contra os abusos, os estardalhaços da língua. A Regra tem por objetivo nos estabelecer no silêncio. No seu capítulo seis, ele dá uma dupla volta de chave na língua. Ele tem toda razão.”

Ele impõe um silêncio perpétuo? – “Alguns pretendem que nosso Pai São Bento prescreveu a prática do silêncio absoluto, outros acham que o Santo Legislador concedeu atenuações. A verdade não está nem de um lado, nem de outro; ele ficou num meio termo. Ele não prescreve o silêncio como é entendido nos trapistas, não impõe o mutismo. Ele deseja somente fazer compreender que temos a obrigação de saber o que nós queremos dizer e a que momento devemos dizê-lo, a obrigação de prever, de escolher os termos com que nos serviremos ao invés de deixar o acaso e as circunstâncias no-los ditar.”

“Nosso Pe. Muard estudou longamente a questão. E, depois de orações, de penitências, de jejuns, com a autoridade da qual dispunha, ele compreendeu que era preciso, fora do Ofício Divino, da confissão, das aulas, o silêncio perpétuo. Ele o estabeleceu e era assim que se o observava em nossa primeira Comunidade de La Pierre-qui-Vire. Se não o tivesse experimentado, eu acreditaria como todo mundo que é impossível. Mas o experimentei e direi sempre que é um regime admirável. Não há nada de melancólico, nada que leve à tristeza. Ele mantém o contato da alma com Deus.”

“Os membros da comunidade”, por meio “de conferências”, “de passeios” semanais e da reunião da noite antes de Completas que é “verdadeiramente de família”, “se conhecem, compreendem e se entretêm numa doce caridade, ao mesmo tempo que conservam as vantagens tão preciosas do silêncio beneditino.”

Como os monges se comunicam entre si? – “Eles pedem por meio de sinais as coisas necessárias. Os que necessitam de conversar pedem permissão e só o fazem em voz baixa, cuidando de não sair do assunto que têm a tratar. Os chefes de oficio terão o maior cuidado de não sair de suas atribuições, falando somente nos lugares de seu trabalho, a respeito das coisas do trabalho e a seus subalternos. Se se pega o costume de falar muito nas celas e em toda parte, é impossível que a comunidade não acabe por se dissolver. Não se remedia a perda de uma observância dessa natureza.”

O silêncio é penoso? – “O silêncio não é uma prisão, nem um aborrecimento, quando é guardado para Deus e sob seu olhar. Ele acalma, harmoniza, eleva, faz rezar, ele atrai Deus para a alma e a alma para Deus, que é seu centro.”

Entretanto, poucos são fiéis a isso… “É coisa rara, muito rara, achar um homem dizendo somente o que é preciso, o necessário e o útil.” Pois é difícil se calar… “Não se consegue o silêncio sem um esforço, sem observar-se a si mesmo com a maior atenção. Para evitar as faltas da língua, são necessários uma grande mortificação adquirida, uma verdadeira humildade, o sentimento íntimo e constante da presença de Deus e a dependência das faculdades da alma e das paixões em relação a Deus. Enfim, o domínio completo da língua só se encontra na humildade”.Como fazer para guardar o silêncio? – “ESPERE QUE VOS INTERROGUEM”, nos diz Nosso Pai São Bento. Se permanecermos em silêncio, teremos ao menos a aparência de sábios.”

“Obrigado ao silêncio pela sua Regra, todo beneditino deve ser tão sóbrio em cartas como em palavras. É realmente lamentável gastar tempo e trabalho escrevendo, para agradar, cartas que são lidas num piscar de olhos e que não produzem, ordinariamente, outro efeito que o de distrair por um momento o leitor, e que são em seguida atiradas ao fogo ou encerradas para sempre numa gaveta qualquer. É preciso que nos façamos antigos nesse ponto e deixar que nossos amigos reclamem dos nossos atrasos e do nosso laconismo.”

“Duas palavras que nunca podem ser colocadas uma ao lado da outra: conversador e beneditino.”

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